quarta-feira, 20 de junho de 2018

O Retrato



O conto “O Retrato” faz parte de uma coletânea publicada em 1835 por Nicolai Gogol reconhecido pelo expressivo realismo em suas obras literárias. Nascido na Ucrânia, Gogol destacou-se na Rússia por retratar a sociedade local, de forma combativa e irônica.

Nesse conto, o autor nos apresenta o jovem Tchartkov, um promissor estudante de artes, mais precisamente pintura a óleo. Em seu humilde ateliê, ele dedicava-se em estudar grandes mestres da pintura, retratando parte de suas obras.

Para o seu mestre, Tchartkov era um jovem talentoso e impaciente.  O rapaz era consciente que precisaria estudar mais alguns anos e conhecer melhor a técnica de pintores renomados. Mas a falta de recursos financeiros era angustiosa. Ele precisava se alimentar, se vestir e pagar o aluguel.

Certo dia, o jovem pintor parou em uma loja de artes inaugurada próxima de sua residência. Olhava os quadros de forma distraída e desprezava a baixa qualidade e o mau gosto das pinturas.
O vendedor se esforçava para vender algum quadro, porém Tchartkov  não demonstrava qualquer interesse. Mas o jovem continuava percorrendo a galeria apenas observando de forma despreocupada.

De repente, observou um quadro todo empoeirado e ficou surpreso com a qualidade dos traços. Não havia dúvida, a expressividade no olhar havia sido retratada por um pintor talentoso.

Ao perceber o interesse de nosso protagonista por aquela velha pintura, o vendedor insistiu e efetuou a venda. Tchartkov entregou sua última moeda e saiu arrependido daquela loja. Naquele momento, ele passava por inúmeras necessidades e aquela tela pouco representaria para os seus estudos.

A tela retratava um velho vestindo um imenso traje asiático. Porém, seus olhos foram pintados de forma expressiva e intrigante. Pareciam vivos e Tchartkov não parava de observar, passando a sofrer com pesadelos com a referida imagem.

Aquele retrato havia sido encomendado por um rico senhor que fazia fortuna através dos empréstimos com juros elevados. Era uma pessoa enigmática, de pouco convívio social e conhecido agiota, procurado por necessitados e desesperados.

A narrativa de Gogol é rica em detalhes do cotidiano russo, com pinceladas de fantasia e muita ironia. Ele nos apresenta uma subversão de valores e a mudança comportamental decorrente da ascensão social.

Conforme observado nos contos “O Capote”, “O Nariz” e “Diário de um Louco”, a mensagem é transmitida de forma objetiva. Podemos perceber que o toque surreal em suas obras acentua a visão crítica em relação ao cenário da época.

No conto "Diário de Um Louco", o autor aborda a vida de um funcionário público e o desenvolvimento do seu processo de loucura. A narrativa é bem humorada e inicia com a descrição da paixão platônica do protagonista pela filha de seu chefe.

No conto “O Nariz”, Gogol retrata a surpresa do barbeiro Ivan Iákovlievitch ao cortar um pedaço de pão e encontrar um nariz pertencente a um dos seus clientes. Na mesma manhã o assessor escolar Kovaliov percebe de forma surpreendente o sumiço do seu nariz e inicia uma longa busca. O absurdo do acontecimento é narrado com muito humor e ironia.

A literatura russa nos proporcionou obras grandiosas escritas por excelentes mestres, entre eles, Nikolai Gogol.